segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

aceitar o que?

Quando ouço 'do que vale uma vida sem algumas cicatrizes', penso realmente se isso deveria ser verdade ou como todos apanhamos e tentamos aguentar as pancadas fazemos dessa frase um mantra. É apanhar, é se recompor, tomar um café forte no dia seguinte para curar a tristeza das lágrimas secas no rosto ou para salvar de uma ressaca uma cabeça dolorida. Logo, "não temos muitas escolhas, não é? É a vida..." e procuro me abster de qualquer pensamento que me leve pra longe me mantenha num sonho acordado e me faça infeliz outra vez em repetir os meus desejos que nunca foram(serão) realizados. Não é fugir da dor, mas perceber que ele pode se tornar um belo vicio, poético, artístico, trágico e bonito aos olhos em comum. Nisso a beleza é reconhecida ao ser reproduzida em algo comum: na dor, sofrimento e no "se foder" de cada dia.
É algo realmente útil para se pensar: nos passam velhos que repetem e repetem só depois de anos, e muitos calos ganhos, e muito sangue perdido e muito tempo também perdido que algum velho sabe diz doeu e só percebi agora, e talvez, não precisava ter doido tanto como deixei machucar. Filmes, livros e toda a arte moderna/contemporânea/romântica/trágica produz isso na gente: sofra para se sentir vivo.

Não pode ser isso... O caos, a entropia... Tudo isso, tudo isso agindo e se destruindo e se engolindo e se transformando de ouro em merda e não sobrando nada... Afirmamos tudo isso com tanta certeza quando somos só humanos, nada mais que humanos que aceitaram o fardo de serem masoquistas emocionais, logo, aceitamos ser escravos da dor e sofrimento, não conseguimos abandoná-lo e glorificamo-o sem nenhum critério, só aceitação e aceitação e um breve suspiro...

Mas, para mim, não da pra ver a porra do mundo todo duma janela, principalmente duma janela suja pelo próprio sangue e pela próprio fuligem interna, de tanto apanhar... E ainda diz: quem mundo bonito é esse mundo cinza, não?

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