quarta-feira, 29 de julho de 2009

"

I.

Durmo 5h.
Acordo meio-dia.
Lembro de sonhos.
Quero esquecer deles.
Já dizia alguns poetas:
Devemos rimar!
Já grito eu sem som:
Vão se lascar!

Outrora sabia muito o que dizer
Hoje só preciso de um porquê.

Já rabisquei muitos cadernos,
Já rasguei boa parte dos papéis...
Mas percebi que os pensamentos são eternos,
e minhas dores e sentimentos, fiéis.

Permaneço fechado no meu quarto,
Permaneço no meu mundo fechado.
Escrevo, mas quero gritar...
Quando grito, quero escrever.

II.

Essas histórias-ilusões
Pertencem a mim, e me fogem
Não pertencem a ninguém...
De quem?
De quem pertenceriam se pudessem
ser lidas, vividas, morridas...esquecidas?
Ninguém pertence a história,
Como ela não pertence a ninguém.

Arfe como um cão sedento.

Seu lado humano lhe prende
A razão segura nossos pés.
Areia movediça da certeza.
Que queres, homens da terra,
a não ser enriquecer e ganhar?

Galopem em seus cavalos verdes sangrentos.
Mas não esqueçam de seus irmãos...
Mergulhem na luxuria e na ordem provisória,
mas não me perturbem com seu palavrear.

Pois, sou e não sou daqui.
Amo e odeio a tudo.
Grito e calo, choro e rio!
Mas só sou escravo de mim
E da existência...
...Enquanto mais sábia é!


III.

"Justiça vertiginosa, és tu quem reges, aqui?", gritaste pobre homem enquanto que a morte chegou, velada em sua forma humana, sob o templo da guerra, disse:"Sou só a justiça de quem me concede oferendas e sacrifícios, mas sou a morte e a dor, a fome e a doença para quem não segue meus planos... Por que perguntas, homem que já vai para além, se nada resolverá eu responder ou não quem sou, pois meu trabalho aqui já está feito contigo...", o homem tentou se arrastar um pouco mais próximo da escadaria em vão, só arrastava pó em suas braçadas fracas, pó dos mortos incinerados. Desistiu e enfim falou:"Eu sou só mais um com dúvidas do que vem, pois, mesmo diante dos portões de Hades, após anos de busca e incertezas no querer saber o que realmente tem ou deixa de ter, hesito. Hesito, pois, ainda sou humano, Besta do Caos!".
Silêncio, só o vento mexia nos cabelos e vestes do homem, a criatura permanecia estática e quando falava parecia só mexer os lábios, seus olhos vendados não transmitiam certeza das palavras dela, suas vestes e cabelo pareciam ser movidos por um vento próprio, suas vestes... Mortalhas vivas sem consciência. Por fim disse, "Não sou Besta do Caos, sou nascida e bem criada dos desejos de seus irmãos, da ordem e da justiça! Mas como toda criança que nasce, cresce e aprende, aprendi com os erros de meus criadores, que vocês todos não merecem nada do que tem. Sirvo a Ordem e nada mais, criatura humana. Já fui muito complacente com seus pecados e tresvários!", o tom se alterava de neutralidade inumana para uma voz tremula e emotiva.
"Não quebre o pacto que fizeste com a Luz da Razão, Você que Não Vê, mas Sente! Tu serves a falsa Ordem, dos falsos profetas não-humanos, línguas de cobra eles tem, veneno traiçoeiro eles tem, astúcia maligna e falsa benevolência! Achei que era mais sábia e capaz de usar todo acesso a Luz da Razão que tem. Mas, nego tudo que pensei, mudo pelo desagrado e pela ânsia que sinto agora!", falou o homem, já com tanto do seu próprio sangue a sua volta que só a fé explica como tal proeza é feita sem que ele ainda perdesse a consciência e a vida! Chorava muito, falava embasbacado. Ele que tanto lutou, estava lá, diante de um destino reservado aos mortos. Não chorava por medo, não chorava por pena de si, de não ter feito tudo que era necessário, chorava de raiva, de incredulidade do que via.
Agora, começara a trovoar, não sabia o homem se a criatura podia também intervir no controle do tempo por suas emoções, ou se a natureza assim queria seu funeral; provavelmente não saberia nunca disso.
Começou a falar a Justiça, a Morte, a Criatura da Desordem - seja lá quem fosse agora, não sabia mais o que a Justiça tinha se tornado. - "O que diz você, que estou não só cega, mas surda? Que não sei mais fazer para o que fui criada: julgar? Como és capaz de me dizer quem és bom ou ruim?"
O homem começou a falar o que poderiam ser suas ultimas palavras: "Digo tudo isso porque até a você, meu último recurso, os lagartos venenosos corromperam. Você era pura em sua essência, não era humana, por isso era tão pura! Não que nós humanos sejamos impuros, mas somos corruptíveis. Agora, até você e seus irmãos são suscetíveis a corrupção. Minhas esperanças se esvaíram, como o sangue que verte fora de meu corpo regando essa campina da morte. Não sei como isso ocorreu, mas meu espírito chora por isso. Seu coração ao se encher de ódio se desviou do seu caminho sublime: julgar sem medir! és agora uma pária, vingadora sem medidas... Justiça, a muito você abandonou seu nome e seu intento. Vi, lutei, perdi... Já sou um derrotado e não posso mais lutar, não posso mais fazer muito pelo nosso mundo e meus irmãos. Mas, suplico em nome de meus antepassados e daqueles que viveram e morreram ao meu lado, não se leve pela emoção humana que você tem agora, ela é cega e não sente a verdade e mentira! Você era cega, mas seus sentidos eram mais aguçados que o faro de mil cães e a sabedoria de uma legião de sábios humanos. Agora está mais humana e mais fraca, sua força se perde a cada vez que levanta a espada para um alguém ainda inocente que poderia ser mudado nas próximas vidas, sua balança agora pesa mais para um lado sombrio.
"Trevas e luz são só dois lados de uma mesma moeda, o bem e o mal coexistem, eterna mudança e roda da vida! Não quero dizer que toda minha vida foi boa ou ruim, tentei viver em pleno equilíbrio, pois saberia que essa seria minha prova de que minhas palavras são verdadeiras no dia que te encontrasse, mas sei que deveria, então, ter pendido para o lado sombrio, só assim me ouviria. Minha espada é a palavra que digo e sei que agora a ferem profundamente, criatura, tu não serves ao caos, mas a desordem, o caos é sábio em sua essência, a desordem, um organismo irracional e não intuitivo que tende a inanição e fracasso. A Ordem, é misteriosa e provavelmente se vela, pois é parte do caos primordial. Você é só uma criatura confusa e fraca!
Deixo em suas mãos a culpa de minha morte e do fracasso de minha empreitada, se ainda há sabedoria que pinga em seu Ser, ouça o que digo!"
O guerreiro finalmente se entregou aos braços da Morte, finalmente encontrou um descanso, mesmo querendo ainda lutar muito.
A Justiça a cada palavra que ouvia sentia-se mais fraca e começou a perder o equilíbrio até cair de joelhos sobre um degrau, junto com as primeiras gotas de chuva, suas lágrimas. Toda a sua essência agora estava surrada pelas palavras de um mero guerreiro, mas que dizia verdade e era sincero em cada palavra. Ela não sabia o que fazer, mas já sabia o que devia não fazer.

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