A lembrança daquele beijo apertado, de línguas tímidas, num terminal de metrô. Uma despedida embriagada e meio que alforriada dos ditames de uma paixão louca, metafísica e mentirosa. Sabe aquelas paixões egoístas que acham serem as maiores do mundo? Então, ele já havia perdido esperanças quaisquer nessa e qualquer idéia possível de um amor todo bem comportado e reparador – que tira o carnívoro de um frigorífico, coloca em meio a uma plantação de alface e pede para este que se satisfaça com aquelas folhas verdes... sem sabor. É cruel, crudelíssimo.
Poxa, aquele beijo representou tanta coisa como não representou nada. Simplesmente naquele dia, naqueles tempos, ele preferiu esquecer o beijo, pois estava querendo se comprometer em outro relacionamento (Claro! Mais maduro. Os dois “sabiam” o que queriam – a doce ilusão de uma paixão utópica). Na verdade o desespero é de não agüentar ficar só. O desespero está em não ter ninguém para dividir a cama e seus fluidos corporais em algumas noites, alguns dias ou só alguns minutos desesperados... Minutos-moleques voluptuosos que parecem se preencherem com hormônios explosivamente cheios de uma corrosão libidinosa. Um adolescente punheteiro que está com seu pau na mão em frente de peitos fartos de uma prostituta barata e feia, mas com um corpo razoável. Essa cena é intrigante: aqueles seios fartos que por eles já passaram bocas doentes e dentes podres que os mordiscaram, pintos semi-eretos que tentavam, ao serem pincelados naqueles seios com manchas, ficarem eretos o suficiente para penetrarem naquela vagina mal depilada ou naquele cu que bem de perto ainda fedia merda.
Uma cena contrastante que passava pela cabeça dele, mas ele percebeu: mesmo nunca ter tido tal oportunidade escatológica e cheia de sânie que é expelida dessas vontades humanas e egoístas, – dessas vontades travestidas de atos como válvulas-de-escape – ele ainda assim se sentia a mesma merda de tudo o resto... Talvez sim, talvez não. Em alguns momentos aquele que é comedido e conservador comete atos hediondos, enquanto o explosivo e errático, aquela ovelha-negra de todos os lugares moralmente montados: escolas, locais de trabalho, casa, clubes... Enfim, o bobalhão, o libertino, o cínico, este passa despercebido em sua frugalidade pelos desejos egoístas tão humanos, cometendo delitos breves e sinceros, delitos que passariam despercebidos em qualquer delegacia.
Mas aquele beijo? Não, não pertence a nenhuma dessas medíocres expressões, não pertence ao amor ilusório e frágil, nem a uma ambição a ser resolvida num futuro incerto, nem um beijo roubado e fixado numa vontade permissiva e totalmente embasada numa libertinagem sádica... Nem numa depressão, nem no niilismo.
Onde raios então aquele beijo está afixado? Não conseguia mais engolir esse papo de coração e amor. Achou finalmente que o beijo ficou cravado em algumas sinapses nervosas especiais. Tipo uma área VIP para certos acontecimentos
Mas o beijo aconteceu....

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