sexta-feira, 14 de maio de 2010

Musa.

Aquela garota-mulher, pequena, com olhos vivos e brilhantes, um sorriso vivaz e enigmático – no final, poderia ser simplesmente um sorriso sincero... sorrisos sinceros tendem a ser enigmáticos –, ela o instigou. Ele ficou tentando, pelas beiradas, descobrir como alcançá-la. Timidamente e erradamente ele puxou uma vez um assunto qualquer, depois ficou trocando olhares. Maldito ônibus lotado.

Agora, no presente, ele a via rodeado de estranhos. Queria ele saber: quem é ela? Depois da resposta dessa pergunta tudo poderia estragar, pois, minutos depois ele num conversa com um colega dessa garota falou: são as dúvidas que dão graça a vida e não as certezas. E assim, mesmo depois da tentativa de conversar com ela, de se aproximar dela... Enfim, não deu. Descobriu ao menos o curso que ela fazia e o ano em que estava.

Toda essa vida sempre em busca de conhecer as coisas, mas não para fundar uma verdade. Ele percebia isso agora: sempre foi conhecer despretensiosamente, para depois esquecer, mudar de idéia, montar novas idéias. O compromisso com qualquer filosofia sempre foi próximo ao nulo: ele gostava de crer e descrer em tudo e nada. Aceitando toda e qualquer solução para o momento que parecesse viável ou divertida ou sincera...

Aquela moça, sem nome por hora, dos olhos claros, cabelos lisos e castanhos e com o seu sorriso singular mexia com os pensamentos dele em todas as viagens que se encontravam. Tornou-se um hobbie, descobrir as coisas dela. Características, gostos, nome etc. Ele sempre teve musas às quais ele dedicava seus pensamentos que os encontros duravam as viagens nos ônibus. Era seu modo de brincar em conhecer as mulheres, seu joguete descompromissado em busca de coisa alguma. Ora buscava pensar qual era a cor ou cores favoritas dela, ora imaginava que tipo de música ouvia, ora os pensamentos tornavam-se mais picantes: que tipo de lingerie ela usava, quais posições na cama ela fazia, se tinha muita ou pouca experiência... Se, era católica, espírita, protestante, umbandista, agnóstica ou atéia... Se, tinha fantasias com chicote e velas ou com champanhe e jantar romântico... Se, lia poesia, auto-ajuda ou best-sellers... Se ela já havia notado ele, e em conjunto seus olhares. Era o misto de querer tudo e não querer nada.

Afinal, os olhares e toda e qualquer expectativa acabariam um dia. Dissolveria todo esse joguete quando ele visse ela acompanhada de um “estranho”, ou com o caminhar torto de que está alcoolizada e/ou drogada, enfim. Tudo era questão de ponto de vista. Suas musas? Elas tinham que ser perfeitas o quanto fosse possível.

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